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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ventos de agosto


Desde Recife até São José da Coroa Grande, hoje o sol estava gostoso, brilhante emoldurado por uma brisa insistente. De frente à praia olhei o mar, o tom era esverdeado, no céu poucas nuvens... estiquei os braços e fechei os olhos um momento, enquanto aguardava os outros.

Agosto de ventos intensos a levar a poeira dos dias frios do inverno. Por aqui as chuvas começam a diminuir enquanto as notícias, doutros lugares, são de seca e queimadas intensas, como não se via há mais de 10, 20, 50, 80 anos.

Solto os cabelos diante dos uivos e sussurros que levantam roupas, sacodem os varais e trazem à tona o guardado outrora. Num instante lembro os dias passados na semana: madrugadas tomadas de pensamentos; pés calçados em meias brancas; tardes a precipitar-me diante do balanço das folhas e, quase sem querer, a sorrir diante dos olhares incompreensíveis enquanto caminhava entre os casarios antigos, pontes, margens do rio ou da praia e segurava as roupas e pés quase arrancados do chão.

Hoje cedo, enquanto colocávamos as rabiolas e tentávamos segurar as palavras soltas como pipas durante a reunião, eles, os pescadores, falavam e buscavam uma data para o próximo encontro. Argumentavam sobre o melhor dia e com certeza 12 de setembro não daria porque é preciso esperar 30 dias após o lançamento do edital, e, acima de tudo, aquele“será de noite escura”!

A melhor semana seria a que inicia dia 19, quando a lua estará entre crescente e cheia. Bom para eles é noite clara, quando não saem ao mar de fora para buscar os peixes. Por outro lado, isso não impede o trabalho dos que capturam lagostas, mas é certo que “a maioria estará em terra”. Entretanto, a lua cheia anunciará o início da primavera e então os ventos terão diminuído, as águas estarão mais calmas, o barro arrastado na enxurrada do rio estará mais assentado, é propício à pesca . Nova temporada.

Eu, lá sentada, a pensar manusear o carretel, na verdade a mercê daquela discussão, a observar o fluxo, o fluir das decisões sinceramente construídas. Até então, não lembrava da mudança de estações, mas desde já aguardo o florir que me anseia enquanto encaixoto, mais uma vez, a mudança.

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