Páginas

domingo, 29 de agosto de 2010


...é preciso avisar: os olhos estão abertos e junto com eles estão os sentidos guardados enquanto fechados, quando aguardavam o momento.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

...a dor do outro quando dói na gente é a dor da gente fragmentada e outrora guardada lá dentro, na memória!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

agosto!

...meu coração hoje é o que é e mais um pouco de vento... forte vento... ssshhh, silêncio e mesmo assim não é! Como se mais ninguém houvesse ou estivesse, vento por entre os cabelos e roupas... segura a bolsa! É saudade, sorriso, abraço, gentileza, frio, caminho, tranqüilidade e mesmo assim não é. Música!
...era cedo ainda quando saí, no caminho normal e mesmo assim sempre diferente, foi ele (o vento) que me trouxe a música, há tempos não ouvia, cantarolei aos poucos e repetia "eu só acredito em vento que assanha cabeleira,quebra portas e vidraças e derruba prateleiras, se fizer um assovio esquisito na descida da ladeira" e dali por diante: "eu só acredito em chuva, se molhar minha cadeira de palhinha na varanda, minha espreguiçadeira, se fizer poça na rua acredito nessa chuva de peneira. Eu só acredito em lama se for escorregadeira como casca de banana, tobogã de fim de feira...".

Então, enquanto cantava, fecharam a rua, queimaram pneus e fizeram manifestação; a moça mal humorada me deu a bolsa pra segurar; o senhor de cabelos brancos cedeu o lugar pra mulher grávida e eu pra ele; a enfermeira atendeu o bebê na emergência porque era particular; fiz os exames para satisfazer a médica; alguns esqueceram da reunião e eu gostei, ganhei mais tempo; a chuva passou rápida e as minhas pastas digitais estão cheias de lixo dos outros!

Mas, então o disco todo foi colocado pra tocar: Vivo! é do Alceu, é um dos preferidos!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ventos de agosto


Desde Recife até São José da Coroa Grande, hoje o sol estava gostoso, brilhante emoldurado por uma brisa insistente. De frente à praia olhei o mar, o tom era esverdeado, no céu poucas nuvens... estiquei os braços e fechei os olhos um momento, enquanto aguardava os outros.

Agosto de ventos intensos a levar a poeira dos dias frios do inverno. Por aqui as chuvas começam a diminuir enquanto as notícias, doutros lugares, são de seca e queimadas intensas, como não se via há mais de 10, 20, 50, 80 anos.

Solto os cabelos diante dos uivos e sussurros que levantam roupas, sacodem os varais e trazem à tona o guardado outrora. Num instante lembro os dias passados na semana: madrugadas tomadas de pensamentos; pés calçados em meias brancas; tardes a precipitar-me diante do balanço das folhas e, quase sem querer, a sorrir diante dos olhares incompreensíveis enquanto caminhava entre os casarios antigos, pontes, margens do rio ou da praia e segurava as roupas e pés quase arrancados do chão.

Hoje cedo, enquanto colocávamos as rabiolas e tentávamos segurar as palavras soltas como pipas durante a reunião, eles, os pescadores, falavam e buscavam uma data para o próximo encontro. Argumentavam sobre o melhor dia e com certeza 12 de setembro não daria porque é preciso esperar 30 dias após o lançamento do edital, e, acima de tudo, aquele“será de noite escura”!

A melhor semana seria a que inicia dia 19, quando a lua estará entre crescente e cheia. Bom para eles é noite clara, quando não saem ao mar de fora para buscar os peixes. Por outro lado, isso não impede o trabalho dos que capturam lagostas, mas é certo que “a maioria estará em terra”. Entretanto, a lua cheia anunciará o início da primavera e então os ventos terão diminuído, as águas estarão mais calmas, o barro arrastado na enxurrada do rio estará mais assentado, é propício à pesca . Nova temporada.

Eu, lá sentada, a pensar manusear o carretel, na verdade a mercê daquela discussão, a observar o fluxo, o fluir das decisões sinceramente construídas. Até então, não lembrava da mudança de estações, mas desde já aguardo o florir que me anseia enquanto encaixoto, mais uma vez, a mudança.