Páginas

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011





ajustes crescentes
respiração constante
contentamento nascente
força
mesmo assim, leveza
quero!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

“…Cosme e Damião chegou, Cosme e Damião chegou...”

No bairro antigo de Maceió, após circular entre ruas e vielas desconhecidas, em grande engarrafamento, eis que aparece um lugar diferente, ainda não visto. A grande árvore do lugar é a primeira a chamar a atenção, com folhagem farta - sem poda, e grande quantidade de cipós a ‘escorrer’ na direção do chão. Por um instante a confusão não existe. A moça canta qualquer coisa no som do carro e os moradores do lugar assistem, nas portas e janelas das pequenas casas, ao vai e vem. O ambiente parece perdido em algum retrato não feito. Ali, a lembrança: a beleza está ao redor... sim, tem lixo, tem gente estranha, falta um bocado de palavras... mas, ainda há beleza logo ali!

Ao que parece é diferente.

Adiante a volta à rua pretendida. Na esquina a pequena faixa de listras amarelas e alguns policiais indicam confusão. Sobre o trilho duas partes de um velho trem. Muita gente aglomerada. Uns falam, outros choram, outros comentam a situação, muitos indicam as melhores formas de resolver o problema. O taxista parou sobre os trilhos, não pretendia esperar o fluxo lento do excesso de carros.  No final trágico da pressa, a passageira morreu.

Cedo ainda no dia festivo de Cosme.

Bem perto dali, o vendedor de bananas, sentado quase dentro do grande cesto que outrora serviu para carregar a mercadoria, observava com ombros caídos e certo olhar de normalidade a situação. Os curiosos, por toda a parte. Ambulantes a se perguntar sobre o melhor ponto para vender naquela situação, eles oferecem os produtos diversos: água, doces, salgados, bijuterias, frutas, peixes, sururu e temperos.  Duas senhoras com lenços na cabeça esbravejam sobre quem seriam os culpados. Animais aproveitam a movimentação e algumas migalhas jogadas no chão. Há colorido e há chuva. O riacho está cheio, mas as águas há muito servem de depósito dos mais diferentes descontentamentos. Motociclistas se aglomeram, tentam convencer o guarda que podem passar sem problemas, inclusive sobre o local do acidente, eles também têm pressa.

Há pouco o apito do trem tocou, voltou a circular.

Irmanar na diversidade, com o atraso provável no trabalho, esse é o desafio. Era cedo ainda quando os dois, Cosme e Damião, apareceram. Assim, sem querer, nas lembranças e na vontade de querer crescer, colorir, rodar e ser mais amor.

Água pra lavar, pipoca pra brincar e doce pra alegrar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011


Às vezes as palavras não vêm ou não as quero pronunciar. Parece não ser assim, ali adiante. Acontece. Não se trata de ser aquela pessoa. É a necessidade iniciada há algum tempo: solidão. Com alguns aparece: cansaço ou distância; com outros: pouco brilho; com a maioria: grande diferença no modo de usar as palavras, dar sentido à elas, significar o dia e as coisas ao redor. Não as considero menos certas. As considero num lugar, hoje, estranho e distante. Tantas vezes tenho certa incapacidade de lidar com as situações que as pertencem ou as fazem pertencer ao ambiente. Acredito termos questões, de vida afetiva e de ordem prática, parecidas. Mas, a didática me faz impertinente, chata e sem graça.

Eu acho graça disso.

Entretanto, ao contrário. Mudei tudo de lugar. Desorganizei o sentido das coisas. Busquei outras formas e cá estou a mercê do novo, de novo. Esperando as pessoas e elas estão a chegar. A maioria conheço agora. As recebo com seus problemas e suas descobertas. Partilho aprendizados e às vezes falo demais. Elas querem aceitar, mas mantém uma estranha relação de querer continuar ao passo de querer me mandar ficar quieta, elas me contam! Eu sento e as observo a tentar silenciar. Elas calam, falam, gemem e choram. Eu me vejo nelas. É diferente do que eu penso.

A vida é uma constante descoberta.

sábado, 30 de abril de 2011

Querida Izabel,

tentei lembrar da data, mas nem tive tanta vontade. Poderia ter procurado lá nos cadernos ou relatórios ou documentos ou planejamentos antigos, mas agora não quero remexer naquelas coisas. Então, resolvi escrever para te contar um pouco sobre onde meus pensamentos foram te buscar para tentar entender a efemeridade do que existe. O local é o Convento de São Francisco, em Penedo.

Lembro bem daquelas paredes muito grossas e empoeiradas; os grandes e velhos banheiros onde nos encontrávamos todos, bem cedo, quando escovávamos os dentes olhando ao longe o Rio São Francisco; o piso de madeira que rangia a cada passada; as áreas reservadas aos residentes, onde não podíamos entrar; a área aberta localizada no centro do prédio adornada com um jardim pouco tratado; a igreja (acho que) de Nossa Senhora dos Anjos que observávamos, lá de cima, em plena reforma e restauração. Nas reuniões daquela região, comumente ficávamos ali. Por causa dos baixos custos de hospedagem e alimentação, da boa fé dos franciscanos a nos acolher e do nosso jeito de organizar os trabalhos e sonhar com um futuro mais liberto, pra nós e pra tantos outros quanto pudéssemos e quisessem. Acredito que esse sentimento guiava a todos quantos estavam ali.

Lembro de, além das tantas concordâncias e discordâncias, fazermos roda, cantarmos, trabalharmos a noite para organizar os resultados dos debates, das brincadeiras e risadas, dos livros a venda para arrecadar dinheiro, da sua amizade crescente com Silvinha, de eu dizer delícias sobre o suco de melancia e de você e o Hélio irem gentilmente preparar um horroroso suco, com direito a água e açúcar, que ninguém gostou!

Num daqueles dias coordenei uma parte da reunião e por três vezes vi um ‘fantasma’ na porta. Pensava que era um dos trabalhadores da reforma do prédio e, quando apareceu mesmo um desconhecido, alguns não entenderam o que eu tinha falado e alguém comentou que aquele prédio era assombrado e me disse para não ter medo. Ali, não sentia medo, você bem o soube. Logo depois a notícia: um dos índios lá de Cabrobó fora assassinado, não se sabia bem como e a Alzení foi pra lá. Ficamos pra continuar com a reunião. Aquele era o dia da confraternização, logo mais, à noite, todos iam passear em Penedo. Claro que sempre gostávamos desse momento, era quando víamos a cidade, falávamos com as pessoas dos lugares, conversávamos bobagens, tínhamos idéias interessantes e ficávamos um pouco mais leves nas nossas relações.

Mas, naquele dia decidimos não sair. Vimos todos se arrumar, cheirosos e contentes com a ‘folga’, as bonitas mulheres com seus vestidos e batons coloridos. Ficamos, sentamos no corredor, observamos a noite, choramos e conversamos. Choramos, não exatamente pelo homem assassinado, mas pelo que aquilo representava na nossa caminhada, sentimos pelas ações tão covardes, tão carentes de sentido. Conversamos e conversamos sobre a vida. Eu, você e Silvinha. Falamos do sertão, dos nossos relacionamentos e expectativas, dos nossos sonhos e crenças, nossas vontades de crescer como mulheres e como pessoas. Tínhamos idades diferentes, mas ali celebramos nossa afinidade e nosso encontro como irmãs de coração e de comunhão com o que de mais terno poderia nos unir: amor.

Ontem comemorava um aniversário e pensava na viagem que faria hoje. Iria à Piranhas onde encontraria jovens de lá e amanhã seguiria para Poço Redondo, onde a Rafa havia preparado o pessoal para nos reunirmos. Até torci para dar tempo de você voltar de Brasília e participar. Hoje, eram quatro horas da manhã quando acordei. Adoro essa hora, mas não me sentia bem, estava instável e havia dor no braço. Decidi não viajar. Não tinha como avisar, estava sem telefone e os orelhões todos quebrados. Enviei um e-mail. Já era final da tarde quando soube do acidente, a Rafa me mandou uma mensagem no celular já recuperado. Não sei o que senti. Liguei pra ela e tive a confirmação: você e o Derli, os outros três estão internados, entre eles o Leomárcio.

Num pequeno altar, mantido na sala, acendi uma vela e chorei, dessa vez sozinha e com menos inquietação. Com meu sentimento sincero pedi a Deus e a Mãe Santíssima que te recebam e te guiem por um bom caminho. Pedi que fizessem isso, não por mim que ainda tenho um coração cheio de correções a fazer e ainda nem sei pedir, mas por você que, com um aconchegante sorriso, desde tão cedo se empenhou em trabalhar por um coletivo melhor e uma vida mais simples, com os pés na sua terra.

Hoje também falei com algumas outras pessoas. Elas me davam notícias de bebês a nascer e novos projetos a se erguer. Reli seu último e-mail enviado a mim. As palavras “nos vemos em outro momento”, ditas para caso você não chegasse a tempo. Pensei no quanto a vida está determinadamente em transformação. Decidi, por enquanto, minha querida 'fulô do sertão', continuar a refletir mais um pedaço sobre a efemeridade a qual todos temos que nos submeter e desejar conformação, a quem precisar.

Desde aqui o litoral chuvoso desse sábado, o meu carinho.

Clarice.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011


breve é o dia, longa é a vida... eterna,
e nem sei bem ainda sentir eternidade... mesmo assim, o mar dá a pista: grande!
alfazema é um cheiro bom de lilás.
azul e branco é um dia bom de continuar.
água é um lugar bom de nascer e banhar.
flor é um jeito bom de suavizar.
bom pra mim é isso e mais a música
o cheiro úmido da maresia... aprendo um dia!
assim assim, lembrança do som de entardecer: maré mansa!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


Poderia até dizer, como me disseram e como pensei outrora, que seria o caso de ter que inverter a lógica de pensar. Hoje acredito não ser preciso inverter, até tentei, mas não consegui ir bem dessa maneira. É sim necessário pensar de outra forma, ver a vida por outro ângulo, perceber a força de atração da terra e as possibilidades de imprimir força, alinhamento e equilíbrio a si, de modo seguro. Isso com certeza é para além, bem além, de um simples ajuste de cabeça, braços, ombros, coluna, quadril, pernas e pés.