Um momento
diante do pôr do sol
Nada de tão
especial no jardim, mas toda a simplicidade das plantas que se misturam aos
matos, capim e pequenas estátuas colocadas sobre pedaços de paus. Há uma
espécie de passarela disposta na entrada. Uma a uma as flores feitas de cimento
foram colocadas para comportar o passo de quem entra, mas bem perto da varanda
duas estão emparelhadas.
Ao longe é
possível avistar uma menina que brinca sozinha. Aparenta nove anos de idade,
veste uma camiseta branca com listras cor-de-rosa, colocada por dentro da saia também
cor-de-rosa. Perto dá para perceber que ela está descalça e enquanto saltita,
anda e pula de um lado para outro ao redor da varanda, conversa com os próprios
pensamentos e lembranças. Ela espera a mãe terminar o trabalho de ajudar as
pessoas dali com os afazeres domésticos. A pele morena, os cabelos pretos, os
olhos insistentes perguntam algo a quem passa, sem que qualquer coisa seja dita.
Franze a testa com o tom sério das aparências.
Sozinha, ela
pula da varanda com os pés afastados e apoiados sobre as flores de cimento
emparelhadas, uma pequena pausa é acompanhada da cantiga balbuciada sem
pretensão. Dobra uma das pernas e sai saltitando em um pé só sobre a passarela,
no final dá um grande salto, cai com os dois pés na última flor, pula de novo,
se vira, volta e repete, mais uma vez e mais uma vez. Em um pequeno instante
sinto, também sou ela.
É final da
tarde, ao longe as pessoas conversam, caminham e se preparam para voltar às
suas casas, arrumar as coisas, se preparar para mais um dia seguinte. Ela espera
a mãe. A tarde mistura a cor alaranjada do poente com o crescente e intenso azul
do entardecer.